Era uma vez,
alguém que não se enquadrava
na realidade em que estava inserido.
Incompreendido e agredido
pela família de sangue,
cedo percebeu que outra família
deveria existir onde se sentisse
acolhido e amado.
Procurou nos amigos o conforto,
o alento para seguir em frente,
e talvez tenha sido feliz
durante algum tempo.
Os maus tratos físicos
deixaram de doer,
e amizade era bálsamo curador
quer das feridas físicas,
quer das do coração.
Mas, os anos passam,
e os amigos vão-se,
ora para longe, ora para bem perto,
mas instala-se a solidão.
E esse alguém escreve,
aquilo que não consegue dizer,
as coisas que nunca irão compreender,
aqueles que o consideram diferente.
Casamento, filhos, casa,
lutas mesquinhas da Vida terrena,
contas para pagar, desilusões, traições,
amores falsos, amigos quase inexistentes,
e a sua inexistência para a família,
levaram essa alguém à depressão.
E continuava a não se enquadrar
no Mundo dos Outros,
em que o "outro" era ele.
E foi assim que veio Deus...
No meio do sofrimento atroz do corpo,
no desmantelamento completo da Alma,
no estilhaçar barulhento do coração,
cujas lágrimas fizeram desaparecer,
ali estava ELE.
Hoje, esse Alguém, já é Alguém.
Tem família que sabe da sua existência,
tem irmãos e irmãos em toda a parte,
e tem em Deus um pai ternurento.
E apesar da caminhada continuar agreste,
dos desafios serem, por vezes, intransponíveis,
esse Alguém descobriu que há caminhos
que têm que ser percorridos,
para se atingir o cume da montanha,
e de lá conseguir discernir
com toda a claridade possível,
onde se enquadra neste Mundo.
Hoje, esse Alguém descobriu
que é possível curar o corpo,
concertar a Alma,
colar os estilhaços do Coração,
e voltar a chorar,
e mesmo assim ser-se feliz.
Obrigada Pai, por tudo quanto fizeste por mim.