Hoje, estou aqui para fazer um apelo!!
Um apelo aos Profissionais de Saúde, que queiram fazer uma "intervention"! A minha experiência pós-cancro tem sido extremamente difícil. O enquadramento social, familiar e conjugal, tem sido quase tão extenuante quanto o foi a quimio e tudo o resto.
Passo a explicar: as pessoas que passam por uma experiência oncológica, ficam mudadas. Jamais verão a Vida através dos mesmos olhos. Tudo será ponderado de forma diferente, desde o tempo de Vida que nos resta, ao tipo de demonstração afectiva que doamos ou necessitamos. Tudo mudou para nós. Ou antes, nós mudamos completamente. A realidade permanece a mesma, conhecemos as mesmas pessoas, mas nós já não somos as mesmas pessoas, e esse sentimento consegue ser avassaladoramente solitário.
Durante o período de tratamentos, cirurgia e exames, existem diversos protocolos que permitem um acompanhento constante do doente oncológico. Após este processo, e se as coisas correrem bem, esse processo continua, mas de uma forma mais distante e menos personalizada. A parte emocional é deixada para trás, e quando queremos falar com alguém, somos enviados para a Psicologia, para que possamos desabafar. Contudo, as consultas são limitadas aos profissionais existentes nas instituições e o que acontece é que se espera meses por uma consulta (e neste caso estou a falar por experiência própria). Se desejamos falar, chorar, gritar e ao mesmo tempo não sermos considerados loucos, vamos ter um grande trabalho pela frente.
Neste contexto, e dado que não tenho conhecimento de Organizações ou Instituições que providenciem apoio emocional e psicológico ao processo pós-oncológico, deixo aqui o apelo aos Profissionais de Saúde que tenham conhecimentos, vontade e alguma disponibilidade, para criarem um Projecto de Apoio aos Sobriviventes Oncológicos, no qual as pessoas possam ter sessões ou reuniões semanais, onde se possam partilhar experiências, traumas, dores, ressentimentos, e todos os outros sentimentos resultantes desta luta, devidamente orientadas por pessoal médico devidamente credenciado e habilitado a providenciar a mediação do diálogo entre os participantes, bem como, dar o apoio necessário àqueles cuja adaptação esteja a ser mais difícil.
No caso das mulheres sobreviventes ao cancro da mama, por exemplo, existe todo um trabalho a ser feito, no sentido de estas mulheres continuarem a ser capazes de viver com as diferenças do seu corpo, com as dificuldades de aceitação da sua feminilidade por parte dos seus companheiros, que por vezes as olham com receio e preocupação, e não com a paixão existente anteriormente. Sentimentos como estes podem ser destruidores e contributores para o novo desencadear do problema. Todos sabemos que grande parte da cura é psicológica.
Assim sendo, espero que um dia alguém pegue numa ideia tipo esta e seja capaz de desenvolver um projecto desta envergadura (isto, caso tal ainda não tenha sido feito! Se o foi, desculpem a minha ignorância!)!
Até lá, fica aqui o apelo de alguém que todos os dias SOFRE na pele tudo quanto foi falado anteriormente e que tenta dar voz a todos quantos passam diariamente por estas dificuldades.
A todos quantos lerem este texto, e ponderarem ajudar, "Bem hajam"!
Obrigada, em nome de todos!