domingo, 28 de novembro de 2010

APELO aos PROFISSIONAIS DE SAÚDE!!

Hoje, estou aqui para fazer um apelo!!

Um apelo aos Profissionais de Saúde, que queiram fazer uma "intervention"! A minha experiência pós-cancro tem sido extremamente difícil. O enquadramento social, familiar e conjugal, tem sido quase tão extenuante quanto o foi a quimio e tudo o resto.

Passo a explicar: as pessoas que passam por uma experiência oncológica, ficam mudadas. Jamais verão a Vida através dos mesmos olhos. Tudo será ponderado de forma diferente, desde o tempo de Vida que nos resta, ao tipo de demonstração afectiva que doamos ou necessitamos. Tudo mudou para nós. Ou antes, nós mudamos completamente. A realidade permanece a mesma, conhecemos as mesmas pessoas, mas nós já não somos as mesmas pessoas, e esse sentimento consegue ser avassaladoramente solitário.

Durante o período de tratamentos, cirurgia e exames, existem diversos protocolos que permitem um acompanhento constante do doente oncológico. Após este processo, e se as coisas correrem bem, esse processo continua, mas de uma forma mais distante e menos personalizada. A parte emocional é deixada para trás, e quando queremos falar com alguém, somos enviados para a Psicologia, para que possamos desabafar. Contudo, as consultas são limitadas aos profissionais existentes nas instituições e o que acontece é que se espera meses por uma consulta (e neste caso estou a falar por experiência própria). Se desejamos falar, chorar, gritar e ao mesmo tempo não sermos considerados loucos, vamos ter um grande trabalho pela frente.

Neste contexto, e dado que não tenho conhecimento de Organizações ou Instituições que providenciem apoio emocional e psicológico ao processo pós-oncológico, deixo aqui o apelo aos Profissionais de Saúde que tenham conhecimentos, vontade e alguma disponibilidade, para criarem um Projecto de Apoio aos Sobriviventes Oncológicos, no qual as pessoas possam ter sessões ou reuniões semanais, onde se possam partilhar experiências, traumas, dores, ressentimentos, e todos os outros sentimentos resultantes desta luta, devidamente orientadas por pessoal médico devidamente credenciado e habilitado a providenciar a mediação do diálogo entre os participantes, bem como, dar o apoio necessário àqueles cuja adaptação esteja a ser mais difícil.

No caso das mulheres sobreviventes ao cancro da mama, por exemplo, existe todo um trabalho a ser feito, no sentido de estas mulheres continuarem a ser capazes de viver com as diferenças do seu corpo, com as dificuldades de aceitação da sua feminilidade por parte dos seus companheiros, que por vezes as olham com receio e preocupação, e não com a paixão existente anteriormente. Sentimentos como estes podem ser destruidores e contributores para o novo desencadear do problema. Todos sabemos que grande parte da cura é psicológica.

Assim sendo, espero que um dia alguém pegue numa ideia tipo esta e seja capaz de desenvolver um projecto desta envergadura (isto, caso tal ainda não tenha sido feito! Se o foi, desculpem a minha ignorância!)!

Até lá, fica aqui o apelo de alguém que todos os dias SOFRE na pele tudo quanto foi falado anteriormente e que tenta dar voz a todos quantos passam diariamente por estas dificuldades.

A todos quantos lerem este texto, e ponderarem ajudar, "Bem hajam"!

Obrigada, em nome de todos!

sábado, 27 de novembro de 2010

Tenho estado ausente, numa viagem em que me observo do exterior, como se de outrm se tratasse. Tenho estado ausente numa viagem, através da qual consigo analisar todas as realidades paralelas, todos os destinos possíveis e imaginários que poderia ter tomado, todas os desfechos para as decisões que não tomei e que jamais tomarei.

Sei que a minha Vida teria sido diferente, sei que poderia ter sido mais feliz, ou menos feliz, do que o que sou hoje. Sei que conheceria pessoas diferentes, e que eu seria uma pessoa diferente, masi bonita, ou menos bonita do que aquilo que sou hoje.

O mais interessante, é que, ainda hoje, existem realidades paralelas, em que eu poderia tomar determinadas decisões, ou tornar realidade determinadas acções, que me sinto extremamente compelida a tomar, mas que sei que, através desta viagem que faço ao interior externo de mim, jamais as tomarei.

E se calhar, é por isso que é bom termos consciência, e termos capacidade de vermos os vários cenários erráticos das decisões mal tomadas que poderíamos vir a tomar... para que, de facto, sejamos capazes de não as tomarmos.

Eu sou o que sou e sou como sou porque existiu um percurso que me trouxe até aqui. Bem, ou mal, esta sou eu. Amada, odiada, desprezada, humilhada, enaltecida... nas mais diversas circunstâncias temporais de minha Vida.

E é isto que posso oferecer aos meus, nada mais. Pois, é assim que sou. Sem censuras, nem embelezamentos, nem disfarces: uma pessoa, como outra qualquer...

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

E o céu brilha mais esta noite! Até sempre, meu querido!

E foi hoje, 18 de Novembro de 2010, que o meu querido amigo Paulo fez a Travessia... a Grande Travessia para o lado daqueles cuja Luz brilhará eternamente.

Não existem palavras que exprimam com exactidão suficiente qualquer sentimento que se possa sentir em alturas como esta. Por isso, aqui fica somente o registo do acontecimento, e uma vez mais vos peço que, esta noite, olheis para o céu e rezeis uma oração de agradecimento, pois Deus foi misericordioso, e o Paulo está, finalmente, livre...

Até ao Dia em que nos voltaremos a ver...

Até sempre, meu querido!

domingo, 14 de novembro de 2010

Certezas...

Existe esta confusão
de caminhos que poderiam ser
e que não são
e de conhecimentos
que se cruzam
e que fazem com que me perca
da minha essência ancestral.
Preciso de me encontrar
e não quero continuar perdida
nesta Vida desconexa,
onde tudo parece
e nada é.

Que a certeza esteja
onde Deus quer que ela fique:
dentro de mim
em minha Alma,
pertinho de meu coração.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Paulo...o meu Amigo.

Tenho um amigo. Um amigo que se chama Paulo, e que por estes dias, estará "percorrendo" o último trilho nesta Viagem, nesta incursão neste Planeta.

Eu gosto muito do Paulo. Conheço-o há mais de vinte anos, mas persegue-me a culpa, por não ter falado com ele, não ter procurado por ele durante estes últimos anos. E depois, ele há certas coincidências... O Paulo foi operado a um cancro no estômago oito dias depois de mim, e a família tentou esconder-me esse acontecimento com receio de me fragilizar.

Talvez estivessem certos. Talvez eu me tivesse ido a baixo pensando no porquê de Deus ainda me continuar a poupar a mim, logo a mim... No entanto, eu não sou Deus, e não tenho, felizmente, que decidir quem vive e quem morre. Deus deve ter um cargo muito difícil e solitário, e não lho invejo, de facto.

Aqui deixo hoje a minha homenagem ao doce, pacífico, honesto e amoroso Paulo, cuja vida se conta agora por dias, por horas... E peço a Deus que seja misericordioso, e que se ele tem mesmo que passar para o lado de lá...

Esta noite, rezem uma oração, para que chegando à Casa Verdadeira de onde todos somos, ele possa finalmente recuperar e ser feliz, no seio da Família de Luz que o aguarda.
Amén.